15 de maio de 2010

Eckhout


Albert van der Eckhout (Groningen Holanda ca.1610 - idem ca.1666). Pintor, desenhista. Inicia seus estudos em pintura com Gheert Roeleffs, seu tio. A serviço do conde Maurício de Nassau (1604 - 1679), governador-geral do Brasil holandês, Echkout viaja para o Brasil, onde permanece por sete anos (1637-1644). Entre os companheiros, na comitiva de Nassau, destacam-se os artistas Frans Post (1612 - 1680) e Georg Marcgraf (1610 - 1644). No período em que esteve no Nordeste brasileiro desenvolve intensa atividade como documentarista da fauna e da flora e como pintor de tipos humanos. A estada no Brasil é considerada sua principal fase. Nesse período, produz cerca de 400 desenhos e esboços a óleo presenteados por Nassau a Frederich Wilhelm, eleitor de Brandemburgo1, em 1652, e agrupados por Christian Mentzel, entre 1660 e 1664, nos volumes Theatri Rerum Naturalium Brasiliae e Miscellanea Cleyeri, pertencentes hoje à Biblioteka Jagiellonska, Cracóvia, Polônia. Produz também 26 telas a óleo presenteadas a Frederik III (1609 - 1670), rei da Dinamarca, em 1654, das quais 24 encontram-se hoje conservadas no Departamento de Etnografia do Nationalmuseet [Museu Nacional da Dinamarca] em Copenhague. Albert Eckhout retorna a Holanda em maio de 1644, fixando residência em Groningen. Casa-se e transfere-se para Amersfoort, a leste de Amsterdã, onde nascem seus dois filhos. Em 1653, passa a trabalhar em Dresden como pintor na Corte de Johan Georg II (1613 - 1680). No ano de 1663, volta a residir em Groningen, onde falece por volta de fins de 1665 ou início de 1666. No fim do século XVIII uma série de cartões do artista é transformada em tapeçarias pela Manufatura de Gobelins.

1 Diz-se de príncipe ou bispo que participava da eleição do imperador, na Alemanha antiga.

Pouco se sabe da vida do pintor holandês Albert Eckhout antes de sua chegada a Pernambuco, em 1637. Provavelmente foi iniciado nas artes por seu tio Gheert Roeleffs, mas não há registro de nenhuma obra sua realizada antes da estada no Brasil. Talvez tenha sido indicado ao conde Maurício de Nassau (1604 - 1679) pelo pintor e arquiteto Jacob van Campen (1595 - 1657) para integrar a comitiva de artistas e cientistas responsáveis por documentar o Novo Mundo durante a permanência do governo holandês em Pernambuco, entre 1637 e 1644. Além de Eckhout, cuja tarefa era retratar a fauna, a flora e os tipos humanos brasileiros, faziam parte do grupo o pintor Frans Post (1612 - 1680), o médico Wilhem Piso (1611 - 1678) e o naturalista Georg Marcgraf (1610 - 1644).
No Brasil, o artista produz um conjunto de cerca de 400 desenhos e esboços a óleo originados da observação direta de espécimes vivos encontrados em suas excursões pelo território brasileiro ou pelo jardim botânico criado por Nassau. Doados por Nassau a Frederich Wilhelm em 1652, os estudos foram agrupados por Christian Mentzel em 1660-1664 nos volumes Theatri Rerum Naturalium Brasiliae e Miscellanea Cleyeri, pertencentes hoje a Biblioteka Jagiellonska, na Cracóvia, Polônia. Esses trabalhos de fatura rápida, mas que procuram fixar tanto as características gerais quanto os detalhes específicos dos motivos observados, serviram de base para a criação das suas grandes telas a óleo, realizadas posteriormente em ateliê, e para tapeçarias das séries Antigas e Novas Índias, fabricadas pela Manufatura de Gobelins, em Paris, França.
Albert Eckhout torna-se conhecido principalmente pelo conjunto de 21 telas a óleo sobre motivos brasileiros. Tal conjunto é constituído pelos quatro pares de retratos etnográficos dos habitantes do Brasil no século XVII - Homem Tapuia, 1643 e Mulher Tapuia, 1641Homem Tupi, 1643 e Mulher Tupi, 1641Homem Mulato, s.d. e Mulher Mameluca, 1641 e Homem Negro e Mulher Negra, ambos de 1641 - uma série de 12 naturezas-mortas com frutas e vegetais tropicais ou cultivados em solo brasileiro (todas sem indicação de data) e o grande painel Dança dos Tapuias, s.d.. Por doação de Nassau ao Rei Frederik III da Dinamarca, em 1654, as obras pertencem atualmente ao Nationalmuseet [Museu Nacional da Dinamarca] em Copenhague.
Se durante muito tempo esses trabalhos foram vistos como retratos fiéis da realidade brasileira, valorizados por sua qualidade documental, hoje se sabe que uma intricada relação entre ideal e realidade deu origem a essas pinturas. Em primeiro lugar, deve-se notar que a composição dos quatro pares etnográficos segue um padrão encontrado em ilustrações de livros de viajantes: a figura é colocada no centro do primeiro plano, em tamanho natural e em posição frontal. Suas posturas remetem a retratos europeus da época. Ao fundo, tem-se a linha do horizonte situada bem abaixo da linha mediana. Elementos característicos do habitat de cada etnia aparecem por todo o quadro e servem a sua construção simbólica. Por exemplo, os adornos da Mulher Negra (chapéu decorado com penas de pavão, brincos e gargantilha com pingente de pérolas, colar de coral vermelho, pulseira de ouro ou latão e um bracelete de miçangas) nos alertam para o caráter idealizado e retórico da figura enfocada. O cesto em sua mão direita é originário de Angola ou da República Democrática do Congo, associando a mulher ao ponto de origem da maioria dos escravos negros dos holandeses no Brasil. Talvez por isso essa mulher assemelhe-se tão pouco a imagem real de uma escrava da época. Do mesmo modo, os porquinhos-da-índia aos pés da Mulher Mameluca e o cão selvagem entre as pernas da Mulher Tapuia devem ser entendidos como sinais exteriores do índice de civilidade de cada personagem. Nesse sentido, deve-se sempre ter em mente que esses retratos de certa forma fixam mais a perspectiva da dominação holandesa no Brasil do que o próprio Brasil, como observou Ana Maria de Moraes Belluzo.1
Outro dado a considerar é a função decorativa de tais pinturas. Não se sabe ao certo seu exato destino, se deveriam ocupar o salão principal do Palácio Friburgo ou serviriam à decoração de uma sala "exótica" em um palácio europeu. Também não há certeza de que esses quadros tenham sido realizados no Brasil. Contudo, ter em mente essa qualidade decorativa ajuda a compreender a escala um tanto inusual do conjunto. A série de naturezas-mortas, com medidas entre 85 x 85 cm e 93 x 93 cm, impressiona pela riqueza de cores e detalhes e naturalmente pelo tamanho das frutas e vegetais. A disposição dos frutos sobre uma mesa ou parapeito, em primeiro plano muito próximo ao espectador e em contraste com o fundo acinzentado do céu, realça o caráter exótico do conjunto.
Por outro lado, tal composição restabelece os vínculos de Albert Eckhout com o ramo mais "especializado"2 da pintura de gênero holandesa do século XVII: a pintura de natureza-morta. O modo como expõe o interior das frutas e vegetais, o esforço documental em apresentar a textura de suas superfícies, recorrendo muitas vezes a contrastes poderosos de luz e sombra, a simultaneidade de diversos pontos de vista do mesmo elemento temático, dissecando o tema em partes - por exemplo, as mandiocas no quadro Mandioca, s.d. -, revelam a visão microscópica (em escala ampliada) característica dos pintores setentrionais. Como observa Svetlana Alpers, esses artistas viam como uma de suas tarefas oferecer um conhecimento novo e concreto do mundo a partir da inserção direta do olho na realidade.3

Notas
1 BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes: imaginário do novo mundo. São Paulo: Metalivros, 1994. v. 1.

2 GOMBRICH, E.H. A história da arte. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988. p. 338.
3 ALPERS, Svetlana. A arte de descrever: a arte holandesa no século XVII. São Paulo: Edusp, 1999.

Obras


Eckhout, Albert
Dança dos Tarairiu (Tapuias) , s.d.
óleo sobre tela
172 x 295 cm
Nationalmuseet (Copenhague, Dinamarca)
Reprodução fotografica autoria desconhecida




Eckhout, Albert
Índia Tupi , 1641
óleo sobre tela, c.i.d.
274 x 163 cm
Nationalmuseet (Copenhague, Dinamarca)
Reprodução fotografica autoria desconhecida 




Eckhout, Albert
Índia Tarairiu (Tapuia) , 1641
óleo sobre tela, c.i.d.
272 x 165 cm
Nationalmuseet (Copenhague, Dinamarca)
Reprodução fotografica autoria desconhecida 


  Eckhout, Albert
Homem Africano , 1641
óleo sobre tela, c.i.d.
273 x 167 cm
Nationalmuseet (Copenhague, Dinamarca)
Reprodução fotografica autoria desconhecida




Eckhout, Albert
Índio Tupi , 1643
óleo sobre tela, c.i.d.
272 x 163 cm
Nationalmuseet (Copenhague, Dinamarca)
Reprodução fotografica autoria desconhecida 




Eckhout, Albert
Índio Tarairiu (Tapuia) , 1643
óleo sobre tela, c.i.d.
272 x 161 cm
Nationalmuseet (Copenhague, Dinamarca)
Reprodução fotografica autoria desconhecida




Eckhout, Albert
Cocos , s.d.
óleo sobre tela
93 x 93 cm 



  Eckhout, Albert
Servo de Dom Miguel de Castro com Cesto Decorado , s.d.
óleo sobre madeira (carvalho)
72 x 62 cm
Statens Museum for Kunst (Copenhague, Dinamarca)
Reprodução fotografica autoria desconhecida

Observação
Obra atribuída também a Jasper Becx 




Eckhout, Albert
Abacaxi, Mamão e Outras Frutas , s.d.
óleo sobre tela
83 x 92 cm 



Eckhout, Albert
Castanhas-do-Pará etc. , s.d.
óleo sobre tela
86 x 92 cm
 



Eckhout, Albert
Abacaxi, Melancias e Outras Frutas , s.d.
óleo sobre tela
91 x 91 cm

Histórico

Nascimento/Morte
ca.1610 - Groningen (Holanda)
ca.1666 - Groningen (Holanda) 

Vida Familiar
É sobrinho do pintor Gheert Roeleffs

Formação
Segundo alguns historiadores, aprende a pintar com o tio, Gheert Roeleffs. Sua produção do período anterior ao que passou no Brasil é desconhecida.

Cronologia

1637/1644 - Recife PE - É no Brasil holandês, como pintor contratado pelo Conde Maurício de Nassau (1604-1679), que Albert Eckhout realiza sua obra principal, um conjunto de 26 telas a óleo - das quais 24 encontram-se conservadas no Nationalmuseet (Museu Nacional da Dinamarca). Essas obras, em 1654, foram presentes do Conde Maurício de Nassau a seu primo Frederico III, rei da Dinamarca.
Diversos desenhos, esboços e pinturas de Eckhout são identificados pelos especialistas nas principais fontes iconográficas do Brasil holandês: Historia Naturalis Brasiliae, Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae, Manuais e Miscellanea Cleyri
1642 - Viaja para o Chile
1664 - Groningen (Holanda) - Retorna com o Conde Maurício de Nassau e ingressa na corporação de ofício dos pintores dessa cidade
1648 - Amersfoort (Holanda) - Os registros batismais de seus três filhos indicam que morou nessa cidade
1653/1663 - Dresden (Alemanha) - Por indicação do Conde Maurício de Nassau, é contratado por João Jorge II como pintor de sua corte
1663 - Vive em Groningen (Holanda)
1687 - Paris (França) - Maurício de Nassau presenteia Luís XIV, rei da França, com uma série de cartões de Albert Eckhout e de outros pintores, que foi transformada em tapeçarias pelas Oficinas Gobelins. O Museu de Arte de São Paulo - Masp possui cinco tapeçarias, da primeira série, chamada Petites Indes
1827 - Copenhague (Dinamarca) - Alexandre von Humboldt foi o primeiro a chamar a atenção sobre a obra de Eckhout em visita ao Museu Nacional da Dinamarca
1876 - Copenhague (Dinamarca) - D. Pedro II (1825-1891), imperador do Brasil, encomenda cópias em escala menor dos quadros de Eckhout. Essas cópias encontram-se no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.