30 de maio de 2010

Adrien Taunay




Filho e aluno do pintor francês Nicolas Antoine Taunay (1755 - 1830), desde muito jovem Adrien Taunay dedica-se ao desenho e à pintura. Vem ao Brasil em 1816 acompanhando o pai, membro da Missão Artística Francesa. Entre 1818 e 1820, participa como desenhista da expedição de circunavegação de Louis Claude de Saulces de Freycinet (1779 - 1842), quando ela passa pelo Rio de Janeiro. Visita a costa da Austrália e arquipélagos do Pacífico e registra a viagem em diversas aquarelas.
De volta ao Brasil, o artista dedica-se à tarefa de pintar cenas mitológicas relativas ao Triunfo de Baco nas paredes da sala de visita da casa de seu pai (já demolida), próxima à Cascatinha da Tijuca. Em 1824, em longa viagem por terras fluminenses, passando por Nova Friburgo e Cantagalo, faz anotações diárias, acompanhadas de desenhos.
Em 1825, é convidado a participar como desenhista da expedição organizada por Georg Heinrich von Langsdorff (1774 - 1852), cônsul-geral da Rússia no Brasil, substituindo Rugendas (1802 - 1858). A expedição parte nesse ano, e a rota, dirigida ao interior, inclui São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Amazônia. Tendo como companheiro Hercule Florence (1804 - 1879), então segundo-desenhista, Adrien Taunay registra a expedição em aquarelas. Na região do rio Cuiabá, os naturalistas seguem cursos diferentes. O artista parte, com o botânico Ludwig Riedel (1790 - 1861), para a Vila Bela de Mato Grosso. Juntos, passam pela aldeia dos índios bororos e atingem a divisa com a Bolívia. No retorno, Taunay morre afogado ao tentar atravessar a nado o rio Guaporé, em Mato Grosso. 

Como aponta o pesquisador Pedro Corrêa do Lago, a obra do artista no Brasil só recentemente tornou-se conhecida, principalmente pela publicação do grande conjunto de aquarelas realizadas no período em que participa da expedição Langsdorff e  conservadas atualmente na Academia de Ciências da Rússia, em São Petersburgo. Adrien Taunay destaca-se como excepcional pintor de paisagens e pelas cenas ricas em movimento. Suas aquarelas também apresentam interesse como fonte de informação histórica, enfocando os costumes da época, como em Rico Habitante de São Paulo que Conduz suas Mulas Carregadas de Cana-de-Açúcar (1825); Lavadeiras do Rio Quilombo e Vestimentas de São Paulo, ou ainda o aspecto das vilas e cidades, em O Convento dos Capuchinhos em Santos e Vista da Vila dos Guimarães. Algumas aquarelas são de grande interesse etnológico, com registro da vida tribal dos bororo e daqueles que viviam na missão jesuítica da Chapada dos Guimarães. Para Corrêa do Lago, Adrien Taunay realiza, em suas aquarelas, um comovente retrato artístico do índio brasileiro.


Obras



Bombacaceae - Chorisia speciosa , ca. 1825 - 1828
aquarela
41,3 x 54,2 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer



Rubiaceae - Psychotria poeppigiana , ca. 1825 - 1828
aquarela e lápis
21,6 x 31,9 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



 Leguminosae - Clitoria simplicifolia , 1825
aquarela e tinta
24,6 x 33,4 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



District de La Chapada , 1827
aquarela, c.i.d.
41,8 x 31,5 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



Costume de S. Paul , 1825
aquarela e nanquim, c.i.d.
21,5 x 17,5 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



Rive Quilombo, au District de la Chapada , 1827
aquarela e lápis
41,3 x 30,8 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



Palmiers Appelés Boriti, Dessinés Au Quilombo, District de Chapada , 1827
aquarela, c.i.d.
40,8 x 31,8 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



 
Chant Nocturne des Indiens Bororós , 1827
aquarela, c.i.d.
28,5 x 22,5 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



Homme et Femme Bororós , 1827
aquarela, c.i.d.
21,8 x 28,4 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



Indiens Bororós à E` Entrée de La Maison de M. Mrs Riedel Et Taunay , 1827
aquarela, c.i.d.
27 x 22 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer 



 Suite des Ornements des Bororós , 1827
aquarela
22,4 x 25 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer


Otus Choliba , 1826
aquarela
17,7 x 21,6 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
Reprodução fotográfica Claus Meyer


Hoplias Malabaricus , 1826
aquarela, c.i.d.
34,8 x 22 cm
Academia de Ciências de São Petersburgo (São Petersburgo, Rússia)
reprodução fotográfica Claus Meyer 


Histórico

Nascimento/Morte
1803 - Paris (França)
1828 - Vila Bela de Mato Grosso MT - Morre afogado ao tentar atravessar a nado o Rio Guaporé em dia de tempestade.

Vida Familiar

Cronologia
Pintor, desenhista

s.d.- Em Paris, França, dedica-se desde muito cedo ao estudo do desenho e da pintura
1816 - Viaja para o Brasil juntamente com o pai, integrante da Missão Artística Francesa, fixando-se na cidade do Rio de Janeiro
1818 - Participa como desenhista auxiliar da expedição de circunavegação organizada por Louis Claude de Saulces de Freycinet (1779 - 1842), quando passa do Rio de Janeiro. A expedição tinha como objetivo o estudo das terras e mares da Oceania
1819 - Após percorrer percorrer diversas regiões do globo a expedição chega a Sidney, na Austrália, em novembro
1820 - Em 14 de fevereiro retornando da Europa, a fragata Urânia, que transportava os integrantes da expedição de circunavegação, naufraga nas águas próximas às ilhas Malvinas. O acidente obriga os expedicionários a permanecerem diversos meses no local. Posteriormente, eles foram socorridos por uma embarcação americana que partira de Montevidéu, Uruguai
1820 - Retorna ao Rio de Janeiro em junho
1821 - Reside com a família, em um sítio localizado nas proximidades da Tijuca, no Rio de Janeiro. Dedica-se ao estudo de idiomas e a leitura dos clássicos gregos e romanos. Produz pinturas, esculturas e estuda música. Executa numa das paredes da residência um painel decorativo intitulado Triunfo de Baco
1824 - Excurciona pelos arredores de Friburgo e Cantagalo, no Rio de Janeiro. Realiza  anotações diárias e diversos desenhos
1825 - Recomendado por Rugendas (1802 - 1858) (conforme versão descrita nos diários de Hercule Florence (1804 - 1879)) ou pelo vice-cônsul russo Kilren (segundo versão descrita nos diários de Langsdorff), integra juntamente com Hercule Florence, Nester Gavrilovich Rubstov (1799 - 1874), Christian Hasse e Ludwig Riedel (1791 - 1861), a expedição científica comandada pelo cônsul Georg Henrich von Langsdorff (1774 - 1852). Os integrantes da expedição embarcam em 3 de setembro em uma pequena embarcação, tendo como primeiro destino a vila de Santos, São Paulo, onde chegam em 05 de setembro. Nesta cidade o artista realiza um desenho representando a Igreja do Mosteiro de São Bento
1825 - Os expedicionários partem em 22 de setembro para a vila de Santos, São Paulo, para a vila de Cubatão, onde permanecem por dois dias. Depois iniciam a subida da Serra do Mar em direção a vila São Paulo. Durante o percurso Taunay  realiza desenhos de espécies botânicas e uma vista do rio Cubatão, em local ainda próximo à Santos
1825 - Em 23 de setembro, realiza registro de espécies vegetais próprias da serra de Cubatão, São Paulo
1825 - Separando-se dos demais integrantes da expedição, que haviam partido em 18 de outubro para Jundiaí, permanece mais alguns dias na cidade de São Paulo, por ter recebido a incumbência do presidente da província Manuel Lucas Monteiro de Barros (1767 - 1851) de pintar um retrato em tamanho natural de dom Pedro I (1798 - 1834) em homenagem ao terceiro aniversário de sua coroação como imperador
1825 - Realiza uma aquarela intitulada Costumes de São Paulo, na qual retrata as vestimentas utilizadas pelos habitantes da vila
1825 - Chega a Porto Feliz, em São Paulo, em novembro, qunado reencontra os integrantes da expedição Langsdorff 
1825 - A expedição Langsdorff visita a fábrica de ferro São João de Ipanema, São Paulo. Taunay realiza alguns registros da fauna local
1825 - Realiza alguns desenhos e aquarelas na Vila de Sorocaba, São Paulo
1825 - Realiza alguns desenhos e aquarelas na vila de Itu, São Paulo
1826 - Em 16 de fevereiro parte juntamente com os outros integrantes da expedição Langsdorff seguindo a direção sudeste, percorrendo as cidades de Itapetininga, Faxinal e Castro. Eles retornam a Porto Feliz na segunda metade do mês de março
1826 - Permanece durante alguns meses, juntamente com os demais membros da referida expedição, na cidade de Porto Feliz, São Paulo, à espera da conclusão dos diversos preparativos para o início do percurso fluvial da viagem. Neste período realiza diversos registros de espécies da fauna local
1826 - Partindo de porto Feliz, São Paulo, a expedição Langsdorff inicia a vigem fluvial através do rio Tietê
1826 - Na região onde atualmente se localiza a cidade de José Bonifácio, em São Paulo, os viajantes chegam ao Salto de Avanhandava. Continuando a navegação pelo rio Tietê o artista documenta também o Salto do Itapura
1826 - Em 11 de agosto, os integrantes da expedição Langsdorff atingem o ponto de confluência dos rios Tietê e Paraná, onde atualmente se situa a cidade de Itapura, São Paulo. Neste ponto avistam o Salto de Urubupungá, também documentado pelo artista
1826 - Em 18 de agosto os viajantes expedição chegam a embocadura do rio Pardo, que atravessa o atual estado do Mato Grosso do Sul. O artista registra a paisagem local
1826 - Chega juntamente com Riedel a Camapuã, Mato Grosso do Sul, onde reencontram os outros membros de expedição. Retomam a viagem no dia 21 de novembro. Partem em direção ao Porto do Furado, situado na margem do rio Coxim. Iniciam a navegação por este rio, atingindo a embocadura do rio Taquari em 3 de dezembro. Alguns dias depois, Langsdorff divide a expediçãoem dois grupos. Adrien Taunay e Riedel seguem diretamente para Cuiabá
1827 - Na vila de Cuiabá, Mato Grosso do Sul, é apresnetada ao cônsul Langsdorff, uma listagem dos desenhos e aquarelas realizadas por Adrien Taunay e por Hercule Florence
1827 - Após a partida dos demais membros da expedição Langsdorff, ocorrido em 30 de abril, permanece por mais oito dias na vila de Cuiabá, a fim de concluir um retrato de D. Pedro I
1827 - Em 19 de maio, encontra-se com os demais membros da expedição na vila de Guimarães, atual vila de Sant' Ana, em Mato Grosso. Apresenta carta de demissão ao cônsul Langsdorff, mas o pedido não chega a se concretizar
1827 - Na vila de Guimarães, atual Vila de Sant'Ana, em Mato Grosso, hospeda-se na fazenda do comandante Domingos José Monteiro, situada às margens do ribeirão do Inferno, onde registra juntamente com Hercule Florence várias vistas da região e retratos das famílias locais
1827 - No início de julho os viajantes que integram a expedição Langsdorff retornam à vila de Cuiabá, Mato Grosso, onde a expedição divide-se em dois grupos. Riedel e Taunay seguem para Vila de Nossa Senhora da Conceição do Alto Paraguai Diamantino
1827 - Em Cuiabá, Langsdorff decide novamente dividir os expedicionários em dois grupos, sendo que o primeiro composto por Riedel e Taunay, deveria seguir para Vila Bela de Mato Grosso e posteriormente descer os rios Guaporé, Mamoré e Madeira
1827 - Parte de Cuiabá em 21 de novembro, juntamente com Riedel, em direção a Vila Bela de Mato Grosso, situada às margens do rio Guaporé
1827 - Partindo de Vila Maria, atual Cáceres, visita, no início de dezembro, juntamente com Riedel uma aldeia bororo denomina Pau Seco e localizada entre os rios Paraguai e Jauru. Nesta aldeia realiza registros dos costumes destes indígenas e da paisagem do local
1827 - Chega juntamente com Riedel, à Vila Bela de Mato Grosso. Hospedando-se no palácio dos governadores, realiza cópias dos retratos do reis de Portugal D. João V e dos antigos governadores da província que adornavam uma das salas da construção. Atualmente estes desenhos pertencem à coleção do Arquivo da Academia de Ciências de Moscou, Rússia. Nesta data escreve carta endereçada a seus irmãos na qual menciona o estado de abandono em que se encontrava o palácio
1828 - Em Casal Vasco, Mato Grosso, documenta a paisagem local e os costumes indígenas
1828 - Deixa a vila de Casal Vasco, em 5 de janeiro e segue juntamente com Ridel para Vila Bela de Mato Grosso. Durante o percurso adianta-se em relação aos demais integrantes da comitiva e perde-se depois de enfrentar um grande temporal. Após atravessar o rio Alegre chega às margens do rio Guaporé e, ao  tentar atravessá-lo à nado, afoga-se nas suas águas. É sepultado na Igreja de Santo Antônio dos Militares, situada nas proximidades do porto em Vila Bela de Mato Grosso 
1988 - É publicado o livro Expedição Langsdorff ao Brasil 1821-1829, pelas editoras Alumbramento e Livroarte, no Rio de Janeiro, em três volumes. O segundo volume traz reproduções de muitas aquarelas e desenhos de Taunay 
1998 - É lançada a publicação Os Diários de Langsdorff, organizada por Danuzio Gil Bernardino da Silva, que divulga informações sobre a participação do artista na referida expedição.

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